domingo, 27 de março de 2011

Os verbos que derrubam

É preciso tomar cuidado ao conjugar termos que são verdadeiras armadilhas para redatores e oradores


Josué Machado

Talvez a mais complexa das dez classes gramaticais da língua, verbo é a palavra que exprime e situa temporalmente ações, estados ou mudanças de estado dos seres e fenômenos da natureza. Tempo, modo, pessoa, número são os instrumentos gramaticais do verbo.

A teoria é entediante, mas pode-se dizer aqui rapidamente que os verbos se classificam de acordo com:

  • Flexão - regulares, irregulares, anômalos, defectivos e abundantes;
  • Função - na frase, auxiliares ou principais;
  • Significado ou aspecto - aumentativo, diminutivo, frequentativo, incoativo, conclusivo e imitativo;
  • Formação - primitivos, derivados, simples e compostos, segundo o radical.
Como o estudo do verbo abrange um universo muito amplo, o que mais interessa aqui são exemplos de formas capazes de induzir ao erro na flexão. E considerar que os verbos irregulares são os mais usados.

Nestas descrições um tanto aleatórias, fragmentárias, sobre temas verbais, o ponto comum são as dificuldades na conjugação. Não se consideram, portanto, questões referentes a regência e concordância.

Mediar
Siga o caminho azul para entender os verbos irregulares com final inar.
O redator se esqueceu de que o verbo mediar é um dos irregulares entre os regulares terminados em -iar.
Há 4 verbos irregulares com final -iar: mediar, ansiar, incendiar e odiar.
Para lembrar que entre os verbos em -iar há 4 irregulares, recorde que eles formam as iniciais do mês de maio.
Mediar
Ansiar
Incendiar
Odiar
Ao anunciar debate televisivo, o jornal publicou:
"Bonner media o programa".
O redator teria escrito melhor:
"Bonner medeia o programa".
Os 4 se conjugam como "ODIAR":
odeio, medeio, anseio, incendeio. Ganham um e nas formas rizotônicas (tônica na raiz).
Há uma tendência brasileira à regularização dos verbos e à simplificação geral da língua, o que explica em parte o "media" do texto.INTERMEDIAR e REMEDIAR são derivados de "mediar" e como ele se conjugam: intermedeio e remedeio.
Mobiliar
É proparoxítono (tônica na antepenúltima sílaba), nas formas rizotônicas: mobílio, mobílias, mobília, mobiliamos, mobilieis, mobíliem; mobílie, mobílies, mobílie, mobiliemos, mobilieis, mobíliem.
Verbos regulares em -iar
São regulares os outros verbos em -iar: adiar, afiar, agenciar, arriar, comerciar, desfiar, diligenciar, premiar, sentenciar etc.: adio, afio, agencio, arrio, comercio, desfio, diligencio, licencio, premio, sentencio

Polir e sortir
A irregularidade de "polir" (lustrar) e "sortir" (prover) traz formas homônimas de "pular" e "surtar" (entrar em surto psicótico) na 1a pessoa do presente do indicativo:


Pular - Eu Pulo


Polir - Eu Pulo


"Eu surto no trânsito"
(enlouqueço)
x
"Eu surto a despensa"
(abasteço)

Ver e vir
Confusão frequente entre os dois verbos dá a tônica no cotidiano
  • Ver e vir confundem-se no futuro do subjuntivo.
  • O mesmo ocorre com os compostos:
    Antever, prever, rever etc.; Convir, intervir, revir etc.
  • A aparente mudança de identidade provoca escorregões formais até de pessoas escolarizadas, muito comuns na fala.
Futuro do subjuntivo
VER
VIR
Se eu vir
Se eu vier
Se tu vires
Se tu vieres
Se ele vir
Se ele vier
Se nós virmos
Se nós viermos
Se vós virdes
Se vós vierdes
Se eles virem
Se eles vierem

Qual é o futuro do subjuntivo adequado?
Há um jeito simples de saber. Tira-se o futuro do subjuntivo do pretérito perfeito do indicativo, 3ª pessoa do plural.


Verbo "ver": eles viram; tira-se o sufixo (am) e obtém-se a 1ª pessoa do futuro do subjuntivo: "vir".
VIRAM - AM = VIR


Verbo "vir": eles vieram; menos a terminação (am) e obtém-se a 1a pessoa do futurR Vo do subjuntivo: "vier"
VIERAM - AM = VIER
ERRADO
É preciso tomar cuidado então para não dizer coisas como se pode perceber nos:

Se ela me "ver"

Quando ela me "ver"
CORRETODeve ser "vir", futuro do subjuntivo de "ver":

Se ela me "vir"

Quando ela me "vir"

Prover
Prover difere do modelo de ver.
  • Conjuga-se como ver em presente do indicativo (provejo, provês, provê, provemos, provedes, proveem).
  • Mas se torna regular no pretérito perfeito, de modo que sua 3ª pessoa plural é proveram: provi, proveste, proveu, provemos, provestes, proveram (-am) = prover.
  • Em prover, o futuro do subjuntivo e o infinitivo pessoal têm a mesma forma, como todos os verbos regulares: prover, proveres, prover, provermos, proverdes, proverem.

Pôr e querer
Embora "ver" e "vir" sejam os verbos em que há mais dificuldades na conjugação do futuro do subjuntivo, elas ocorrem também em outros verbos irregulares, como "pôr" e "querer".
Quando eu PÔR as mãos naquele sujeito...


Ameaçadora, a frase seria mais respeitável se fosse:


Quando eu PUSER as mãos naquele sujeito


Vale para "pôr" a regra (verbo - AM) de "ver" e "vir": Quando ele(s) puser(am).
PUSERAM - AM = PUSER

Querer e requerer
  • Assim como "pôr", "querer" segue a regra de ver e vir:
    "Quando eu (/eles) quiser(am)".
  • Já "requerer" não segue o padrão no futuro do subjuntivo. O perfeito do indicativo, 3ª pessoa do plural é requerer(am); daí, quando eu requerer, requeres, requerer, requerermos, requererdes, requererem.
  • Segue, portanto, o padrão dos verbos regulares, em que o futuro do subjuntivo coincide com o infinitivo flexionado. Como em "amar".
Infinitivo: amar, amares, amar, amarmos, amardes, amarem.


Futuro do subjuntivo: quando eu amar, quando tu amares, quando ele/ela amar, quando nós amarmos, quando vós amardes, quando eles/elas amarem.

Sem z
Em textos de pessoas distraídas, aparecem coisas como "puzer" ou "quizeste", formas válidas só até 1943. O dicionário de Moraes e Silva, de 1813, por exemplo, registra: "Puz de parte a tradução que fazia". Coisa dos tempos do Brasil imperial, como se vê. Desde 1943, com a uniformização da grafia, não há mais z em formas assumidas pelos verbos "pôr", "querer" e seus derivados.


É sempre s: pus, pôs, puser, pusesse, antepuser; quis, quiser, quisesse, benquiser, desquiseram etc.
s
Parir, um verbo bizarro
Apesar da estranheza, certas formas de "parir" podem ser usadas à vontade, até a 1ª pessoa do presente do indicativo e as do presente do subjuntivo. "Parir" já foi tratado como defectivo a que faltavam tais formas, mas não há razão para isso:


Presente do indicativo - pairo, pares, pare, parimos, paris, parem.


Presente do subjuntivo - paira, pairas, paira, pairamos, pairais, pairam.


Portanto, se a grávida tiver programado uma cesariana em data a escolher, pode anunciar:
"Eu pairo no dia que quiser, de amanhã a uma semana."


E o parceiro, compreensivo:
"Que ela paira à vontade, porque eu já fiz o que podia."


Parir x Pairar
Não confundir "parir" com "pairar", voar vagarosamente, sustentar-se no ar, entre outras coisas relacionadas. Os dois verbos coincidem apenas na 1ª pessoa do presente do indicativo: pairo, pairas, paira, pairamos, pairais, pairam. Presente do subjuntivo: que eu paire, paires, paire, pairemos, paireis, pairem.


Duplicidade enganosa
Como escolher entre os particípios do mesmo verbo e com que auxiliar
Verbos abundantes são aqueles em que se registra mais de uma forma de igual valor e função.


"Haver" tem para a 1ª pessoa do plural do presente do indicativo as formas havemos/hemos e, para a 2ª do plural, haveis/ heis; assim também:
  • "Construir": constrói/construi;
  • "Comprazer": comprouve/comprazi;
  • "Entupir": entupe/entope;
  • "Ir": vamos/imos;
  • "Querer":0quer/quere;
  • "Valer": vale/val.
Várias dessas formas são raras e pouco usadas. De todo modo, o que mais caracteriza os abundantes são os particípios duplos, como "aceso" e "acendido".
ACENDIDO
Regular, mais longo e invariável, em -ado (1ª conj.) ou -ido (2ª e 3ª) no infinitivo: aceitado, acendido, erigido são particípios regulares de seus verbos.

ACESO
Irregular, mais curto, varia em gênero e número e tem natureza adjetiva. Daí aceito, aceso e ereto, correspondentes às formas regulares.
O problema é que, dada a duplicidade de formas, costuma haver dúvidas em relação a qual delas usar e em que circunstância.
Quando incendiaram um índio em Brasília, o jornal publicou:


"O índio morreu porque os rapazes tinham aceso o fogo."


O redator se enganou; deveria ter usado a forma regular: "tinham acendido"


A dificuldade de ordem prática que às vezes surge é: que verbo auxiliar usar com que particípio?
Usa-se o particípio regular para formar tempos compostos com os auxiliares ter e haver (voz ativa):


Tinham acendido, haviam matado, têm gastado, haviam prendido.
O particípio irregular, formado do latim ou de nome tornado verbo, vem com ser e estar (passiva):


O fogo foi aceso; o índio estava morto; eles foram presos e, depois, soltos.
Não é definitiva a regra de que a forma regular é usada só com os auxiliares ter e haver, e a irregular, com ser e estar, pois há oscilação no uso dos particípios duplos.

Duplicatas
Estas são as principais formas duplas e triplas (raras) de particípio.
InfinitivoParticípio regularParticípio irregular
Aceitar aceitadoaceito, aceite
Acenderacendidoaceso
Anexaranexadoanexo
Assentarassentadoassento, assente
Benzerbenzidobento
Corrigircorrigidocorreto
Dispersar dispersadodisperso
Distinguirdistinguidodistinto
Elegerelegidoeleito
Emergir emergidoemerso
Encherenchidocheio
Entregar entregadoentregue
Envolver envolvidoenvolto
Enxugarenxugadoenxuto
Erigirerigidoereto
Expressarexpressadoexpresso
Exprimir exprimidoexpresso
Expulsar expulsadoexpulso
Extinguir extinguidoextinto
Findarfindadofindo
Fixar fixadofixo
Fritar fritadofrito
Ganharganhadoganho
Gastargastadogasto

O caso de "adequar"
A maioria dos gramáticos e dicionaristas considera "adequar" como defectivo
Defectivos são verbos que não se conjugam em todos os modos, tempos e pessoas.
Sendo defectivo, não se conjugam as formas de "adequar" em que a vogal tônica é u.
É o que ocorre em quase todo o presente do indicativo (a) e, portanto, nos tempos e pessoas derivados: o presente do subjuntivo (b) e o imperativo negativo (c), além da 3ª pessoa do singular, da 1ª e da 3ª do plural do imperativo afirmativo.
a) Presente do indicativo: adequamos, adequais.
b) Presente do subjuntivo: adequemos, adequeis. Imperativo: adequemos, adequai.
c) Imperativo negativo: não adequemos, não adequeis.
Busque alternativas
  • Troque formas inexistentes pelas de verbos "próximos": acomodar, adaptar, amoldar e ajustar. Eu me acomodo, me adapto, etc.
  • Nem todos concordam em que "adequar" seja "defeituoso". O Houaiss traz conjugação completa, no presente do indicativo: adéquo, adéquas, adéqua, adequamos...

O acento diferencial
1 Morto é particípio de morrer, ao lado de morrido, e também de matar, ao lado de matado:

Ele havia matado um homem e depois morrido. Foi morto. Estava morto e ressuscitou.
2 Expresso é particípio de "expressar" (expressado) e do sinônimo "exprimir" (exprimido):


Ele havia se expressado mal. A ordem não foi expressa com clareza. Não tinha exprimido sua opinião.
3 Rompido é também usado com o auxiliar "ser": Foram rompidos os contratos. Também de "romper", roto se usa mais como adjetivo:


O Arrudão deu desculpas rotas para a bufunfa.
4 Muitos particípios irregulares agem como adjetivos após o substantivo:


Amigo correto, carne frita, garota distinta (= distinguida), governante isento, boate cheia (= enchida), campo seco.
5 Pegar é usado só na forma regular: pegado, embora pego apareça informalmente como particípio irregular de pegar e seja registrado por Aurélio e Houaiss:


Eu havia pegado o caso.
6 Muitos usam "chego" como particípio (Eu havia "chego" cedo).
O único particípio de chegar é chegado. Chego é 1ª pessoa do presente do indicativo de chegar.


Eu chego cedo.
7 As irregulares ganho, gasto e pago são mais usadas do que as regulares ganhado, gastado e pagado (em desuso) com auxiliares.

Luís havia ganhado.
Luís havia ganho.
http://revistalingua.uol.com.br/

sábado, 19 de março de 2011

BIG BROTHER BRASIL

Curtir o Pedro Bial
E sentir tanta alegria
É sinal de que você
O mau-gosto aprecia
Dá valor ao que é banal
É preguiçoso mental
E adora baixaria.

Há muito tempo não vejo
Um programa tão ‘fuleiro’
Produzido pela Globo
Visando Ibope e dinheiro
Que além de alienar
Vai por certo atrofiar
A mente do brasileiro.


 

Me refiro ao brasileiro
Que está em formação
E precisa evoluir
Através da Educação
Mas se torna um refém
Iletrado, ‘zé-ninguém’
Um escravo da ilusão.

Em frente à televisão
Lá está toda a família
Longe da realidade
Onde a bobagem fervilha
Não sabendo essa gente
Desprovida e inocente
Desta enorme ‘armadilha’.

Cuidado, Pedro Bial
Chega de esculhambação
Respeite o trabalhador
Dessa sofrida Nação
Deixe de chamar de heróis
Essas girls e esses boys
Que têm cara de bundão.

O seu pai e a sua mãe,
Querido Pedro Bial,
São verdadeiros heróis
E merecem nosso aval
Pois tiveram que lutar
Pra te manter e educar
Com esforço especial.


Muitos já se sentem mal
Com seu discurso vazio.
Pessoas inteligentes
Se enchem de calafrio
Porque quando você fala
A sua palavra é bala
A ferir o nosso brio.

Um país como o Brasil
Carente de educação
Precisa de gente grande
Para dar boa lição
Mas você na Rede Globo
Faz esse papel de bobo
Enganando a Nação.


 

Respeite, Pedro Bienal
Nosso povo brasileiro
Que acorda de madrugada
E trabalha o dia inteiro
Dá muito duro, anda rouco
Paga impostos, ganha pouco:
Povo HERÓI, povo guerreiro.

Enquanto a sociedade
Neste momento atual
Se preocupa com a crise
Econômica e social
Você precisa entender
Que queremos aprender
Algo sério – não banal.


 

Esse programa da Globo
Vem nos mostrar sem engano
Que tudo que ali ocorre
Parece um zoológico humano
Onde impera a esperteza
A malandragem, a baixeza:
Um cenário sub-humano.

A moral e a inteligência
Não são mais valorizadas.
Os “heróis” protagonizam
Um mundo de palhaçadas
Sem critério e sem ética
Em que vaidade e estética
São muito mais que louvadas.


 

Não se vê força poética
Nem projeto educativo.
Um mar de vulgaridade
Já tornou-se imperativo.
O que se vê realmente
É um programa deprimente
Sem nenhum objetivo.

Talvez haja objetivo
“professor”, Pedro Bial
O que vocês tão querendo
É injetar o banal
Deseducando o Brasil
Nesse Big Brother vil
De lavagem cerebral.


 

Isso é um desserviço
Mal exemplo à juventude
Que precisa de esperança
Educação e atitude
Porém a mediocridade
Unida à banalidade
Faz com que ninguém estude.

É grande o constrangimento
De pessoas confinadas
Num espaço luxuoso
Curtindo todas baladas:
Corpos “belos” na piscina
A gastar adrenalina:
Nesse mar de palhaçadas.


 

Se a intenção da Globo
É de nos “emburrecer”
Deixando o povo demente
Refém do seu poder:
Pois saiba que a exceção
(Amantes da educação)
Vai contestar a valer.

A você, Pedro Bial
Um mercador da ilusão
Junto à poderosa Globo
Que conduz nossa Nação
Eu lhe peço esse favor:
Reflita no seu labor
E escute seu coração.


 

E vocês caros irmãos
Que estão nessa cegueira
Não façam mais ligações
Apoiando essa besteira.
Não dêem sua grana à Globo
Isso é papel de bobo:
Fujam dessa baboseira.

E quando chegar ao fim
Desse Big Bordel Brasil
Que em nada contribui
Para o povo varonil
Ninguém vai sentir saudade:
Quem lucra é a sociedade
Do nosso querido Brasil.


 

E saiba, caro leitor
Que nós somos os culpados
Porque sai do nosso bolso
Esses milhões desejados
Que são ligações diárias
Bastante desnecessárias
Pra esses desocupados.

A loja do BBB
Vendendo só porcaria
Enganando muita gente
Que logo se contagia
Com tanta futilidade
Um mar de vulgaridade
Que nunca terá valia.


 

Chega de vulgaridade
E apelo sexual.
Não somos só futebol,
baixaria e carnaval.
Queremos Educação
E também evolução
No mundo espiritual.

Cadê a cidadania
Dos nossos educadores
Dos alunos, dos políticos
Poetas, trabalhadores?
Seremos sempre enganados
e vamos ficar calados
diante de enganadores?


Barreto termina assim
Alertando ao Bial:
Reveja logo esse equívoco
Reaja à força do mal…
Eleve o seu coração
Tomando uma decisão
Ou então: siga, animal…

FIM

 
Autor: Antonio Barreto,
Cordelista natural de Santa Bárbara-BA,
residente em Salvador.

quarta-feira, 9 de março de 2011

O texto na era digital

Para além do internetês, a internet está mudando a maneira como lemos e escrevemos

Edgard Murano
Na ponta do lápis: escrever tornou-se uma atividade mais banal depois da internet, consequência de blogs, e-mails e redes sociais
Houve um tempo em que o hábito de manter cadernos de anotações era algo bastante corriqueiro. Os chamados de "livros de lugares-comuns" (ou commonplace books) eram utilizados pelos leitores para o registro de trechos e passagens interessantes com que se deparavam em suas leituras. Mas além de transcrições, esses cadernos também reuniam apontamentos sobre a vida cotidiana, conforme relata o historiador Robert Darnton em A Questão dos Livros (Cia. das Letras, 2009, p.164). Essas informações eram grupadas e reorganizadas à medida que novos excertos iam sendo acrescidos. O hábito espalhou-se por toda a Inglaterra no início da era Moderna, e muitos escritores famosos - entre eles John Milton e Francis Bacon - cultivaram essa maneira especial de absorver a palavra impressa, fundada na não linearidade e na fragmentação da informação.
Tradição viva
Hoje, com mais de 37 milhões de usuários de internet só no Brasil, essa tradição de escrita parece mais viva do que nunca, impulsionada por novas tecnologias e amplificada pela comunicação em rede. Não é exagero afirmar que e-mails, blogs e redes de relacionamento já deixaram sua marca na produção textual contemporânea. Para o escritor Michel Laub, autor dos romances O Gato Diz Adeus e Longe da Água (ambos pela Cia. das Letras), a internet tornou os textos mais naturais e coloquiais, embora não seja a única responsável por essas mudanças.
- O texto da internet é um texto em geral mais coloquial, menos "literário", no sentido de ser mediado por truques de estilo. A internet não inventou a coloquialidade, mas fez com que ela passasse a soar mais natural para muito mais gente e, estatisticamente ao menos, virou um certo padrão - afirma.
Com cada vez mais usuários - o acesso à rede no Brasil aumentou 35% entre 2008 e 2009 - a internet está criando novos hábitos de comunicação entre as pessoas, que acabam se adaptando às facilidades da nova tecnologia. Isso vale tanto para a leitura, em vista da profusão de textos veiculados na rede, quanto para a escrita, principal meio de expressão do internauta (pelo menos até que as conversas "via voz" se tornem mais corriqueiras).
(...)

As regras de ouro do e-mail
Anterior à internet, o correio eletrônico continua sendo uma das formas de comunicação mais eficazes
Mais antigo do que a própria internet, o e-mail é uma das ferramentas mais importantes da comunicação virtual, e seu surgimento foi importante para que a rede mundial de computadores fosse aperfeiçoada e desenvolvida. A primeira troca de mensagens eletrônicas foi em 1965 e possibilitava a comunicação entre várias pessoas ao mesmo tempo.
A velocidade dessas mensagens pode ser um prato cheio para desatenções por parte de redatores, resultando em erros muitas vezes constrangedores. Para que isso não ocorra, o texto de um e-mail deve ser simples, exigindo cuidados com sua releitura e acertos no tom da mensagem.
No trabalho, onde a comunicação pode custar dinheiro ou mesmo o sucesso profissional, um e-mail deve ser redigido com toda a atenção para não dar margem a mal-entendidos. Deve priorizar três pontos: simplicidade, clareza e objetividade.
  • O vocabulário deve pertencer à linguagem usual, sem expressões rebuscadas que possam complicar a mensagem;
  • Simplicidade não pode ser sinônimo de descuido. É preciso estar atento à repetição de termos sem necessidade, abreviações obscuras ou construções truncadas;
  • Para um texto conciso e claro, basta relê-lo e cortar termos desnecessários,evitando dizer em muitas palavras o que se poderia dizer em poucas;
  • Ter em mente o receptor de sua mensagem e tentar adequar o tom, com o cuidado de reler no final o texto
  • Cuidado com palavras mal colocadas e destinatários errados. Uma simples mensagem destinada à pessoa errada por engano pode causar; grandes estragos.


A "netiqueta"
Como se comportar corretamente no mundo virtual
  • Maiúsculas:
    textos em maiúsculas (CAPS LOCK ativado), na maioria dos casos, dão a entender que você está gritando. Se quiser destacar algo, sublinhe ou coloque entre aspas. Se o programa utilizado na comunicação permitir, use o itálico ou o negrito, mas sempre de forma moderada para não poluir o texto.
  • Erros de grafia: em conversas informais é normal que a norma culta da língua seja posta de lado. O que não quer dizer que se possa escrever de qualquer jeito. Atenção para os erros que podem mudar o significado do que se quis dizer, como usar "mais" em vez de "mas", "e" em vez de "é", "de" em vez de "dê" e assim por diante.
  • Pontuação: por mais informal que seja, o interlocutor pode não conseguir acompanhar o fluxo de pensamento do redator. Daí a necessidade de pausas. Por isso atenção à pontuação e à divisão de parágrafos.
  • Respostas: ao enviar respostas em fóruns, listas de discussão ou debates em redes sociais como o Facebook, por exemplo, procure ser claro sobre o que está falando ou a que está se referindo. Copie e cole um trecho da questão, dê nome ao que você pretende responder e evite deixar sua réplica solta sem referências às mensagens prévias nas quais você se baseou.
  • Público x privado: questão cara em tempos de redes sociais, o cuidado com o que se publica é essencial para evitar mal-entendidos e situações constrangedoras. Como o meio virtual permite respostas muito rápidas e publicações instantâneas, pense antes de tornar públicos seus pensamentos. Por isso pense, escreva, leia o que escreveu e só depois publique na internet. Lembre-se que suas opiniões ficarão registradas e podem ser facilmente associadas ao seu nome numa busca rápida. Evite também publicar informações que possam lhe causar problemas, como críticas ao seu chefe ou seu endereço.

Um blog pra chamar de seu
Manter uma página com textos próprios pode melhorar suas habilidades de escrita e leitura
A palavra "blog", redução de web log, foi criada em 1997 para designar sites cuja estrutura dinâmica e interface amigável facilitam a publicação imediata de textos, imagens e sons, sem a mediação de webmasters ou especialistas em tecnologia. Sua estrutura favorece a ordem cronológica, cabendo ao post mais recente o lugar de destaque no topo da lista.
Atualmente há milhões de blogs em atividade na internet e sobre os mais variados temas. Tem-se atribuído um papel importante aos chamados "blogueiros" na mídia de hoje, veiculando informações exclusivas e conteúdos que dificilmente seriam publicados em veículos de expressão, seja por razões ideológicas ou por serem de interesse muito específico.
Educadores e especialistas em linguagem são unânimes ao afirmar que o cultivo de um blog pessoal traz benefícios às habilidades de escrita e leitura. A seguir, algumas dicas importantes para quem deseja tornar-se um editor dos próprios textos:
  • Escolha um serviço de blogs (Wordpress, Blogspot etc.) e crie uma conta com um endereço fácil de memorizar
  • Não se preocupe de imediato em definir um tema específico, que mais tarde poderá ser uma camisa de força. A ideia é que o blog seja abrangente o bastante para abarcar variados temas
  • Procure não emitir opiniões polêmicas ou preconceituosas. Isso pode lhe custar um processo
  • Procure escrever com regularidade. Se num mesmo dia tiver ideias para mais de um texto, publique apenas um e programe os outros para serem publicados em dias diferentes
  • Redes sociais como o Twitter e o Facebook são uma boa vitrine para o seu blog. Procure chamar a atenção de seus amigos e seguidores para seus posts publicando links.

Use o Twitter a seu favor
Extraia o máximo de sua comunicação com o mínimo de caracteres
O Brasil é o segundo país com o maior número de usuários do Twitter, rede social criada em 2006 que permite ao internauta escrever mensagens de no máximo 140 caracteres. O serviço também permite que você "siga" outros perfis, cujas informações podem ser visualizadas em tempo real. A onda do Twitter chegou rapidamente ao mundo corporativo, que aos poucos começa a usá-lo de forma mais eficaz. A seguir, algumas sugestões que podem ser úteis para quem quer fazer bom uso da ferramenta.

  • Regularidade: muitos perfis no Twitter ficam inativos por tempo demais, não cumprindo assim a função a que se propõem. Portanto escreva, leia, siga, enfim, faça-o funcionar.


  • Pessoal x profissional: cuidar de um Twitter corporativo exige que você "pense" como a empresa ou o produto. Por isso nunca emita opiniões pessoais sobre temas polêmicos.


  • Interação: embora o Facebook seja mais propício à interação com outros usuá­rios, o Twitter também permite formas de interação com outros perfis. O ideal é que não se faça desse espaço uma espécie de sala de bate papo. Deixe as conversas longas e de caráter mais pessoal para o e-mail ou Facebook. Ouça opiniões, retuíte-as, responda e não fuja de questões delicadas, mantendo sempre a responsabilidade sobre o que está dizendo.


  • Não saia seguindo todo mundo: de nada adianta seguir 10 mil pessoas esperando ser seguido de volta. O que irá atrair seguidores do seu perfil certamente é o conteúdo do que você publica. Além disso, seguir muitas pessoas sobrecarregará sua timeline, impedindo que você absorva todas as informações.


  • "Unfollow": se acaso algum perfil estiver inundando-o de informações inúteis ou ofensivas, não hesite em parar de segui-lo (unfollow). Mas não é preciso alardear.

  • Honestidade: não tome como suas as ideias que você leu em outros perfis. Procure citar a fonte de seus tuítes.

  • Glossário do Twitter
    • Seguidores: da palavra follower, são os usuários que "seguem" (monitoram) um perfil.
    • RTs: abreviação de "retuítes", trata-se da citação do que alguém já tuitou antes. A pessoa citada logo é notificada de que foi mencionada e quem a mencionou.
    • Hashtags: palavras com o símbolo # à frente designam o tema tuitado. Se o usuário clicar nesse termo será levado a uma página que reúne todas as mensagens que possuírem a mesma hashtag. Por exemplo, #diadalinguaportuguesa.
    • Trending topics: literalmente "tópicos que são tendência". É o ranking de palavras e hashtags mais tuitadas, seja no Brasil ou em outros países.
    Vale a pena conferir.