segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

"corinthiano"

Os torcedores do Corinthians levam ao estádio grandes bandeiras do seu time e nelas não raro se vê a grafia “corinthiano”, errada. Os verdadeiros torcedores do Corinthians sabem que são corintianos (sem h, assim como quem nasce na Bahia é baiano sem h). Os outros são alviverdes enrustidos...
Pronuncia-se claramente o fonema final: Corinthians. Há quem diga que torce pelo “Coríntia”. Quem acredita?

Luiz Antonio Sacconi – NÃO ERRE MAIS – 30ª edição.

Ele não "houve" nada, nada!

Parece incrível, mas ainda há gente que confunde houve, forma do verbo haver, com ouve, forma do verbo ouvir.
Num livro sobre aves, encontramos esta “pérola”: O papagaio é a única ave do mundo que imita a voz humana, repetindo tudo exatamente como “houve”.
Num jornal paulistano: Nos últimos dias, o governo andou justificando o déficit comercial, que muitos atribuem ao câmbio, ao déficit público persistente. “Ouve” até comparações entre o caso brasileiro e os twins déficits (déficits gêmeos) dos Estados Unidos.
Que mal lhe pergunte: como vão os manuais de redação?...
Luiz Antonio Sacconi – NÃO ERRE MAIS – 30ª edição.

domingo, 23 de janeiro de 2011

O MUNDO DE SOFIA

O mundo de Sofia é um romance escrito por Jostein Gaarder, publicado em 1991.
O livro apresenta o desenvolvimento social, cultural e histórico do mundo ocidental por meio de sínteses dos pensamentos de grandes filósofos. É uma introdução à Filosofia que tem como público alvo os adolescentes, portanto a linguagem é simples, direta e objetiva.

Em todo o livro há a preocupação de esclarecer conceitos filosóficos complexos por meio de exemplos simples do nosso dia-a-dia, o que facilita, e muito, a compreensão desses conceitos.

O estudo filosófico ocorre em meio a uma narrativa com enredo envolvente e misterioso, especialmente desenvolvido para atrair a atenção e curiosidade dos adolescentes e tem como personagens principais: Sofia Amudsen e Alberto Knox / Hilde Møller Knag e Albert Knag.

O que assusta no início é o “tamanho” do livro, são 547 páginas que contam, em capítulos, a história de Sofia e seu professor de filosofia, Alberto Knox; e de Hilde e seu pai, o major Albert Knag. No entanto, ficamos tão envolvidos com a leitura que não nos preocupamos com sua extensão.

É um livro que todo aluno de Ensino Médio deveria ler, pois apresenta informações importantes para a construção do conhecimento sobre o mundo ocidental, o “nosso” mundo. Nos leva a refletir sobre quem somos, como chegamos até aqui, do ponto de vista do desenvolvimento histórico e cultural de nossa sociedade, e contribui para a formação de opiniões pessoais a partir de reflexões e fatos apresentados, o que é indispensável ao jovem do século XXI, principalmente aos que querem se sair bem em um vestibular muito concorrido.

Deixo aqui uma sugestão de uma indispensável leitura e peço que reflitam sobre o que disse William Shakespeare no século XVI, na voz de Hamlet, um de seus principais personagens, e que ainda é muito atual, apesar de todo desenvolvimento científico e tecnológico:

“Há mais coisas entre o céu e a terra, Horácio, do que sonha a nossa vã filosofia.”

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Há quem prefira a advertência "perigo de vida" a "perigo de morte", donde se conclui que há justificativa e gosto para tudo

Houve tempo em que a advertência "perigo de vida" não causava estranheza. Isso foi no século passado. Depois, alguns sábios mais críticos começaram a criticar, porque eram críticos, a aparente contradição entre as palavras "perigo" e "vida"; consideravam que vida jamais poderia ser apontada como perigo porque não constitui risco, coisa óbvia, mas um bem inestimável, daí o condenável contrassenso, diziam.

Diante disso, começaram a recomendar que se desse mais atenção ao significado das palavras e se corrigisse a advertência vista em caixas ou torres de correntes de alta tensão ou na travessia de linhas férreas.

Deveria ser a seguinte a redação da advertência: "Perigo de morte". Sim, porque o distraído incauto que tocar em fios de alta tensão ou for apanhado por um trem enfurecido corre o risco de perder a vida terrena e ganhar a vida eterna antes da melhor hora, se houver alguma. Corre o risco morrer. Perigo de morte, portanto. E assim passaram a recomendar os estudiosos das boas letras, embora um tanto conservadores. E assim dizem os locutores da TV Globo quando apontam o perigo de alguma coisa: medicamentos falsificados, cruzamentos, tiroteios, alguns desses políticos soltos por aí. Coisas assim. Para a Globo e para vários jornais, portanto, é risco de morte ou perigo de morte.

Mas eis que depois surgiu uma nova leitura dessa velhíssima advertência. Ela passou a ser feita por sábios especialistas em explicar e justificar fenômenos linguísticos.

O fato é que uma das interpretações, levemente aventureira, considera estar subentendida a expressão "perder a" antes de vida. Assim: "Perigo de (perder a) vida". Donde se conclui que a tabuleta "Perigo de vida" está muito bem como sempre esteve e pode continuar assim para sempre como advertência para os muitos perigos desta vida inglória.
(...)
Então por que não reduzir a advertência "perigo de vida" ou "risco de vida" a uma só boa e sumária palavra: "PERIGO"?

Essa advertência sintética iria bem na porta de nossas casas legislativas. E também das executivas e judiciárias. Então seria bom enriquecer o aviso: "PERIGO! CUIDADO!". Ou: "CUIDADO COM A CARTEIRA!". A escolha é sua.

Josué Machado é jornalista,autor de Manual da Falta de Estilo (Editora Best Seller)
Revista Língua Portuguesa - edição 60

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Escrever é fácil: você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca as idéias
Pablo Neruda

A mamadeira errada

O verbo "dar" costuma dar-se bem com o pronome oblíquo lhe, mesmo em construções pouco comuns
Josué Machado*

Certo colunista algo pitoresco e esvoaçante escreveu noutro dia a seguinte frase em sua falação semanal, em que mistura religião, sexo, filosofia, sobretudo sexo, assunto com que muito se preocupa:
"Acho que mesmo sua mãe deve ter lamentado tê-lo dado de mamar."


Ele se enganou com a mamadeira. Deveria ter escrito "ter-lhe dado de mamar" ou "ter dado de mamar a ele".


No verbete correspondente ao verbo "dar", há o exemplo seguinte, de construção semelhante, registrado por Francisco da Silva Borba no Dicionário Gramatical de Verbos do Português Contemporâneo do Brasil (Editora Unesp, 1990).


Antes do exemplo, a explicação:
"O primeiro complemento pode ser expresso pelo seu adjunto: 'quando lhe davam [alguma coisa] de comer, comia', em Emissários do Diabo, G. Lemos (Civilização Brasileira, 1966)".


Portanto, dar-lhe de beber, dar-lhe de mamar - em que o pronome "lhe" é a forma oblíqua objetiva indireta correspondente a "ele", "ela".


Revista Língua Portuguesa - Edição 51
"Quando eu uso uma palavra," Humpty Dampty disse em um tom um tanto formal, "isso significa que eu escolho o que ela significa"


(Lewis Carroll - 1832/1889 - escritor e matemático britânico, em Alice Através do Espelho)
A linguagem é uma razão humana que tem suas razões, e que o homem não sabe.


(Claude Lévi-Straus - 1908/2009 - antropólogo e filósofo francês)